O cardeal

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Tinha no olhar sinistro uma ferocidade,
Quando à noite o acordava inopinadamente,
Que eu pensava no olhar de um Deus onipotente
Com astros golpeando os titãs, sem piedade...
 
Mas ao reconhecer-me era logo ebriedade,
Parecia falar, saltava de contente:
A gaiola deixou um dia, de repente,
Faminto por azuis, por sóis, por liberdade.
 
Quem o soltou? Ninguém. Eu o amava, e perdi-o.
Isto no coração também faz um vazio!...
E era o meu cardeal a flor dos cardeais...
 
Busquei por tudo em vão o pássaro errabundo...
Que pedaço de céu, que pedaço de mundo
O tem, não sei: e como o saberei jamais?!...