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O rei da madeira

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Galafassi, líder da transformação da vila em cidade

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Quando o médico Wilson Joffre propôs a construção do primeiro hospital de Cascavel, contou o pioneiro Amadeu Pompeu, “no princípio eu acreditava que comprando as ações, estava perdendo dinheiro. Com o passar do tempo verifiquei que aquele foi o melhor negócio de minha vida”. Foi um grande negócio para a comunidade toda.

O Hospital Nossa Senhora Aparecida, que veio puxar toda a atual estrutura médico-hospitalar de Cascavel, tornando a cidade um centro de referência e excelência no setor de saúde, teve sua construção iniciada em março de 1952, quando a “cidade” não passava de uma vila, sede de um distrito remoto pertencente ao então vastíssimo Município de Foz do Iguaçu.

A madeira foi doada principalmente pela serraria São Domingos, por decisão de Florêncio Galafassi. Mas essa é apenas uma de inúmeras histórias referentes ao desenvolvimento de Cascavel e da região que contaram com a participação marcante de Florêncio Galafassi, a esposa Emília e sua grande família.

Algo similar ocorreu em relação às obras do primeiro aeroporto, que veio substituir o precário campo de pouso já existente desde a década de 40. Alguns meses depois do início da construção do hospital, por influência do padre Luiz Luíse, Florêncio Galafassi concordou em formar um movimento no sentido de preparar um campo de pouso e obter uma linha aérea.

Uma vez que os aviões das rotas comerciais jamais pousariam no aeroporto inadequado até então existente, era essencial aprimorá-lo. Assim, a Industrial Madeireira do Paraná, dirigida por Galafassi, cedeu urna patrola para proceder a limpeza e providenciar a ampliação da pista.

“Para limpar e nivelar o campo, os senhores Renato Festugato, proprietário da madeireira, e Florêncio Galafassi, diretor da mesma, encarregaram-se de fazer este trabalho com a motoniveladora da firma e de socar a pista com os caminhões carregados com 15 mil quilos de madeira”, contou padre Luiz Luíse em seu depoimento à memória histórica de Cascavel.

Florêncio Galafassi jamais foi candidato a postos eletivos, mas, na condição de diretor da poderosa Industrial Madeireira do Paraná, sempre teve grande influência política. Nasceu em 8 de setembro de 1889 em Bento Gonçalves (RS). Casou-se em 10 de junho de 1922 com d. Emília Decó, em Farroupilha (RS), passando a residir em São Francisco de Paula em 1927, lá permanecendo por 21 anos, até se transferir para Cascavel em agosto de 1948, a serviço da Imapar, da qual era sócio. Naquele ano, a Industrial Madeireira do Paraná, com sede em Caxias do Sul (RS), adquirira o controle da Serraria Moysés Lupion, a primeira em importância a se estabelecer em Cascavel. No dia 3 de agosto daquele ano, um avião monomotor aportava em Cascavel trazendo o pioneiro Florêncio Galafassi, que passaria a dirigir a filial da Industrial Madeireira, a única exportadora da região.

“A pista de pouso situava-se onde hoje está localizada a Avenida Brasil, aproximadamente entre as ruas Visconde do Rio Branco e Alferes Tiradentes, ocupando ainda faixas laterais da atual Avenida” (Dércio Galafassi).

Florêncio passou a dirigir o setor de produção das serrarias Central Lupion e São Domingos. Durante dois anos, até 1950, residiu no Hotel Gaúcho, de propriedade de Pedro Zandoná, nos anos de expansão do pinheiro e outras madeiras como atividade econômica. A partir desse ano, construiu sua moradia na rua Rio Grande do Sul, no chamado Patrimônio Velho (áreas próximas à Praça Getúlio Vargas).

Um automóvel para tudo

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Florêncio Galafassi participou invariavelmente de todas as atividades comunitárias da jovem cidade de Cascavel. Em 1948, o único veículo existente no distrito era um jipe de sua propriedade, com múltiplas finalidades: carro oficial, transporte de noivos, religiosos, policiais e, nos momentos de emergência, fazia-se de ambulância ou coche funerário.

Sua mão esteve presente na primeira usina a diesel, criada na Imapar. Cedeu a madeira para a edificação do Colégio Rio Branco (atual Colégio Marista), do Hospital Nossa Senhora Aparecida, do Tuiuti Esporte Clube (primeira sede), da Igreja Santo Antônio (primeiro templo) e terrenos para a construção do Colégio Santa Maria.

Participou ativamente da luta emancipacionista do Município, cujo desmembramento ocorreu em 1951. Esteve presente no movimento para a criação da Comarca, que se deu em 1954. Deixaria a Industrial Madeireira em 1963, organizando sua própria serraria na localidade de Rio da Paz, no interior do Município.

Além de se caracterizar pela energia e pelo trabalho sempre dinâmico à testa da empresa que dirigia, apesar de toda sorte de dificuldades e contratempos provocados pela falta de recursos, Florêncio Galafassi na sua vida em família sempre se dedicou a ela, conseguindo que todos os filhos e genros fossem conviver a seu lado e de sua esposa.

“As reuniões de família eram uma constante na sua atuação de pai. Nós a ele nos achegávamos para receber sempre aquela orientação segura. Muitas outras pessoas o procuravam para dele se servirem na orientação de seus negócios” (Dércio Galafassi).

Com d. Emília Decó Galafassi, Florêncio teve sete filhos – Danilo, Dércio, Alcides, Inês, Olga, Adiles e Amália. Sua esposa era especialmente dedicada à solução de problemas sociais. No princípio da década de 50, por exemplo, quando nada havia para mitigar o sofrimento dos primeiros cascavelenses, seja na medicação a um ferido, na extrema-unção a um moribundo ou na ampliação dos recursos educacionais, tão escassos, d. Emília teve sua influência na construção do primeiro hospital e primeiras escolas, assim como, no futuro, atuou de maneira destacada na edificação do Colégio Santa Maria.

(Fonte: Alceu A. Sperança, jornal O Paraná, seção dominical Máquina do Tempo)