O seu retrato!

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Miserable destin — Quoi vivre sans son âme
Méconnaître l’amour et toujours le rêver;
Parler sans s’émouvoir un langage de flamme
  Peindre un bonheur sans l’éprouver.
Mll.e Dephine Gay.



Ó imagem d’encanto e primôr
Ó do mundo o meu unico idéal, —
Ó das virgens a — virgem d’amor,
Ó Deidade p’ra mim sem igual,

Recebe o meu canto
Qu’encerra só pranto
Despido do encanto
Do meigo trovar; —
Mas d’alma sentido
Por ella tão qu’rido,

No accento pungido
Que sabe exhalar!

És a imagem mais querida
Formada por Deus no mundo —
És o sorriso da vida
Mesmo em báratro profundo —
És a flôr mais primorosa
Sempre, sempre tão viçosa
Nesse teu desabrochar; —
Que nunca terás na vida
O nome d’emmurchecida
Porque nunca has de murchar!

Teu rosto exprime a doçura
Do lyrio no despontar,
Quando se ostenta vaidoso
Em seu ramo a baloiçar: —
E teus olhos quaes estrellas
Tem mais fulgôr do que ellas
No firmamento a brilhar —
Porqu’infiltram em minh’alma
Com transporte e doce calma —
—Quanto vale um casto olhar! —

Teus labios de rubra côr
São do mais bello carmim
Quando discerram mimosos —
Murmurando um terno — sim! —

Tem a subida magia
Que transporta e m’extasia
Mesmo na vida a carpir —
Porque esmaga esses profanos
Que se tornarem tyrannos
Descrendo do teu sorrir!

O teu niveo seio — é bello,
E da mais alta brancura,
Quando meigo arfa constante
A mais scismada ventura: —
Teus cabellos da côr do oiro
São do mundo o meu thesoiro —
Quando soltas a brilhar; —
Pois será sempre o teu rosto
O mais divino composto
Que na terra hei de adorar!