Obras completas de Fagundes Varela (1920)/Vozes da América/O vagalume
Quem és tu, pobre vivente,
Que vagas triste e sósinho,
Que tens os raios da estrella,
E as azas do passarinho?
A noite é negra; raivosos
Os ventos correm do sul;
Não temes que elles te apaguem
A tua lanterna azul?
Quando tu passas, o lago
De estranhos fogos esplende,
Dobra-se a clicia amorosa,
E a fronte mimosa pende.
As folhas brilham, lustrosas,
Como espelhos de esmeralda;
Fulge o iris nas torrentes
Da serrania na fralda.
O grillo salta das sarças;
Piam aves nos palmares;
Começa o baile dos sylphos
No seio dos nenuphares.
A tribo das mariposas,
Das mariposas azues,
Segue teus gyros no espaço,
Mimosa gotta de luz!
São elas flôres sem hastea;
Tu és estrella sem céo;
Procuram ellas as chammas;
Tu amas da sombra o véo!
Quem és tu, pobre vivente,
Que vagueias tão sósinho,
Que tens os raios da estrella,
E as azas do passarinho?