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Olhos Verdes (Gonçalves Dias)

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OLHOS VERDES.

Elles verdes são:
E tem por usança,
Na cor esperança,
E nas obras não.

Cam. Rim.

São uns olhos verdes, verdes,
Uns olhos de verde-mar,
Quando o tempo vai bonança;
Uns olhos côr de esperança,
Uns olhos por que morri;
Que ai de mi!
Nem ja sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!

Como duas esmeraldas,
Iguaes na forma e na côr,
Tem luz mais branda e mais forte,
Diz uma — vida, outra — morte;
Uma — loucura, outra — amor.
Mas ai de mi!
Nem ja sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!

São verdes da côr do prado,
Exprimem qualquer paixão,
Tão facilmente se inflammão,
Tão meigamente derramão
Fogo e luz do coração;
Mas ai de mi!
Nem ja sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!

São uns olhos verdes, verdes,
Que podem tambem brilhar;
Não são de um verde embaçado,
Mas verdes da côr do prado,
Mas verdes da côr do mar.
Mas ai de mi!
Nem ja sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!

Como se lê n’um espelho
Pude ler nos olhos seus!
Os olhos mostrão a alma,
Que as ondas postas em calma
Tambem reflectem os ceos;
Mas ai de mi!
Nem ja sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!

Dizei vós, oh meos amigos,
Se vos perguntão por mi,
Que eu vivo só da lembrança
De uns olhos côr de esperança,
De uns olhos verdes que vi!
Que ai de mi!
Nem ja sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!

Dizei vós; Triste do bardo!
Deixou-se de amor finar!
Vio uns olhos verdes, verdes,
Uns olhos da côr do mar:
Erão verdes sem espr’ança,
Davão amor sem amar!
Dizei-o vós, meus amigos,
Que ai de mi!
Não pertenço mais a vida.
Depois que os vi!