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Olinda

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Olinda—vives formosa
N'estas collinas perdida ;
Princeza do mar saudosa
Tu sonhas de amor rendida!
Vejo-te ahi feiticeira,
Talvez pensando agoureira,
Nessa já morta grandeza ;
Mas em vez de um rico throno
N’esse largo e fundo somno
Fez um ninho a natureza !

Sobre um tapiz de verdura,
India de amor namorada,
Tens a vaga que murmura,
A teus pés escravisada!
Ai no passado a tua gloria,
No livro eterno da historia,

Conservou a mão da sorte;
Tu revives na lembrança,
Como as flores da esperança
Sobre a cruz—depois da morte.

Foste rainha—o teu sceptro
Estes campos dominou;
Mas veio um dia—poisou
Nas praias um negro espectro!
No leito do captiveiro
Entre os braços de um guerreiro
Veneno e goso bebeste!
Sobre o seio adormecida
N’aquelle engano da vida,
Dormiste, mas não morreste !

Oh! que riquesa sem fim!
Oh que bulicio sem par!
Tiveste grandeza assim,
—Ouro e prata a deslumbrar!
A mão do fado infeliz
Ver-te nua um dia quiz
Só com tuas penas—mas nada!
Como tu és linda agora,
Banhando-te á luz da aurora,
N’aquella vaga asulada? !

Agora sim como brilha
O teu cinto de verdura?!
Dos bosques mimosa filha
Que viço na face pura!
A sombra d’este arvoredo
Como se conta um segredo
Baixinho—na voz das selvas!
Que mysterio lá nos ares!
Oh que saudade nos mares!
Oh que perfumes nas relvas !

Aqui misturam-se os hymnos
Do deserto e da cidade;
Aqui das aves nos trinos
Sorri-se a meiga saudade!
Juncto das trevas a luz
Juncto dos troncos a cruz
A egreja na solidão;
Que importa a morta grandeza,
Si aqui tenho a natureza
Me fallando ao coração?

Ai que lembrança fugiu-me
Para nunca mais voltar;
Qual da jangada no mar
A vela que alli sorriu-me!
Oh India bella e formosa,
Que te inclinas graciosa
Nas aguas tam sem receio,
Eu amo em tarde serena
Ver essa face morena
Pendida sobre o teu seio!

Sonho entam, vejo passando
Algumas sombras na praia!
Um vago som murmurando
Pelo espaço— além sc espraia !
Do mar que geme as endeixas
Da terna aragem as queixas.
Entendo—sei decifral-as
De entre as palmeiras saudosas
Lá das sombras vaporosas
Sam os gemidos, as fallas!

Alli nas verdes collinas
Alvos templos se a levantam ;
Pela varzea peregrinas

Suspirando as aves cantam ! !
Alli n'um extase occulta,
Morta a vida, a alma sepulta,
Doideja em sonho de amor;
Alli, meu Deus, alli só
A cruz murmura no pó
Falla no vento e na flor !

Eis a esperança que sonha
Sobre as espumas do mar;
Que vem na vaga risonha
Teus pés mimosos beijar!
E quando estrellas a mil
No firmamento de anil
Traz da noite a mão suprema,
Então,—oh Nympha das selvas
Sobre o teu leito de relvas
Encostas o diadema!

Ai infeliz tambem chora,
Ajoelhada nos montes,
Em quanto nos horisontes
Não surge o brilho da aurora!
Em baixo a dor, o pesar,
O eterno grito do mar
Susurra, os échos acórda;
Da prece a deusa chorosa
Vaga na praia saudosa,
Soluça do mar á borda!

Salve, Olinda, entre as rainhas,
Rainha da natureza!
Trocaste o solio que tinhas
Por mais linda realeza!
Livre agora do Hollandez,
Boto o Sceptro portuguez,

-E’a pobre, mas tens o riso!
Se o mar cioso tragar-te
Pódem na lousa gravar-te :
—Áqui foi o paraíso!

1858.