Senhor:
A obediencia com que V. A. foi servido mandar-me dar á estampa os meus Sermões, é a que põe aos reaes pés de V. A. esta primeira parte delles, tão differentes na materia e logares em que foram recitados, como foi varia e perpetua a peregrinação de minha vida. Se V. A. por sua benignidade e grandeza, se dignar de os passar pelos olhos; intenderei que com a corôa e estados d’elrei, que esta no céu, passou tambem a V. A. o agrado com que sua magestade, e o principe D. Theodosio (em quanto Deus quiz) os ouviam. Mas porque os affectos se não herdam com os imperios ainda sera maior a mercê que receberei da clemencia de V. A. se estas folhas, que offereço cerradas e mudas, se conservarem no mesmo silencio, a que os meus annos me tem reduzido. Então ficará livre a rudeza destes discursos da forçosa temeridade com que os exponho á suprema censura do juiso de V. A. tanto mais para temer por sua agudeza e comprehensão, quanto o mundo presente o admira sobre todos os que o passado tem conhecido. Deus nos guarde, e conserve a real pessoa de V. A. por muitos annos, para que nas gloriosas acções de V. A. se desempenhe a nossa esperança do que em tantos dotes da natureza e graça nos está promettendo.
- Collegio de Santo Antão em 21 de julho de 1677.
Antonio Vieira.