logar e a expectação de silencio; e quando este se rompeu, que é o que se ouve? Se neste auditorio estivesse um estrangeiro que nos não conhecesse, e visse entrar este homem a fallar em publico naquelles trajos, e em tal logar, cuidaria que havia de ouvir uma trombeta do céu; que cada palavra sua havia de ser um raio para os corações, que havia de prégar com o zelo e com o fervor de um Elias, que com a voz, com o gesto, e com as acções, havia de fazer em pó e em cinza os vicios. Isto havia de cuidar o estrangeiro. E nós, que é o que vemos? Vemos sair da boca daquelle homem, assim naquelles trajos, uma voz muito affectada e muito polida, e logo começar com muito desgarro, a quê? A motivar desvelos, a acreditar empenhos, a requintar finezas, a lisonjear precipicios, a brilhar auroras, a derreter crystaes, a desmaiar jasmins, a toucar primaveras, e outras mil indignidades destas. Não é isto farça a mais digna de riso, se não fôra tanto para chorar? Na comedia o rei veste como rei e falla como rei, o lacaio veste como lacaio e falla como lacaio, o rustico veste como rustico e falla como rustico, mas um prégador, vestir como religioso e fallar, como… não o quero dizer por reverencia do logar. Já que o pulpito é theatro, e o sermão comedia, se quer, não faremos bem a figura? Não dirão as palavras com o vestido e com o officio? Assim prégava S. Paulo, assim prégavam aquelles patriarchas que se vestiram e nos vestiram destes habitos? Não louvamos e não admiramos o seu prégar; não nos prezamos de seus filhos? Pois porque os não imitamos? Porque não prégamos como elles prégavam? Neste mesmo pulpito prégou S. Francisco Xavier, neste mesmo pulpito prégou S. Francisco de Borja, e eu que tenho o mesmo habito, porque não prégarei a sua doutrina, já que me falta o seu espirito?
Dir-me-heis o que a mim me dizem, e o que já tenho experimentado, que se prégarmos assim, zombam de nós os ouvintes, e não gostam de ouvir. Oh boa razão para um servo de Jesus Christo! Zombem, e não gostem embora, e façamos nós nosso of-