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O terceiro prato era vitela assada. A Senhorinha trazia-lha no espeto, porque Sua Majestade gostava de ir trinchando finas talhadas, enquanto a cozinheira, de cócoras ao pé do fogareiro, conservava o espeto sobre o brasido, a rechinar, a lourejar. Bebeu harmonicamente o real hóspede um vinho branco antigo, da lavra de um fidalgo de Braga, proprietário do Douro, que estava no segredo do ditoso abade de Calvos — capelão-mor de el-rei e dom prior eleito de Guimarães.

A criada assistia muito jovial àquela deglutição formidável, e dizia particularmente ao abade: — Este senhor, pelo que come, parece que tem passado muitas fominhas! Ninguém há-de crer o que Sua Majestade atafulha naquele bandulho! — e dizia que lhe dava vontade de chorar, lembrando-se das lazeiras que ele tinha apanhado; porque o abade contava que lera no Deus o quer, do visconde de Arlincourt, que o Sr. D. Miguel, em Roma, não tinha às vezes 10 réis de seu para almoçar uma xícara de leite. E, perguntando a el-rei se era verdade aquilo — que sim, que chegara a essa extremidade; mas que preferia a fome