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a carne

Deitava-se, procurava ler, mas debalde. A imagem de Lenita interpunha-se entre ele e o impresso. Via-a junto de si, absorvia-se em contemplá-la nessa semi-alucinação, falava-lhe em voz alta, desesperava, depunha o livro ou o jornal, estendia-se, virava-se, revirava-se, adormecia, acordava, riscava fósforo, olhava o relógio, via que era noite, tornva a adormecer, tornava a acordar, e assim continuava até que amanhecia, até que chegava a hora de levantar-se.

—Que não sabia o que aquilo era, pensava. Admiração por talento real em uma moça, por faculdades inegavelmente superiores em uma mulher? Possível. Mas em Paris trabalhara ele muito tempo com madame Brunet, a tradutora sapientíssima de Huxley; com ela fizera centenares de dissecações anatômicas, com ela aprofundara estudos de em-