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a carne

Lenita ergueu-se, vestiu-se às pressas, saiu a dar uma volta pelo pomar, deixando intactos o copo de leite e a xícara de café que lhe levara a servente.

O ar fino da manhã puríssima, saturado das emanações balsâmicas das árvores abafava-a, sufocava-a: parecia-lhe que respirava chumbo.

A luz do sol, a dourar a verdura mole do campo, era crua e incomparável a seus olhos. Achava algo de hostil na vegetação, em tudo.

Era-lhe odiosa a imobilidade dos cerros vizinhos, das montanhas que ao longe divisava. Um terremoto, um cataclismo que desmoronasse as serranias, alteando os vales, derramando os rios, convulsionando tudo, iria muito melhor ao seu estado de espírito do que essa calma da natureza, bárbara, estúpida.