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a carne

Deu dez horas, deu onze, deu meia-noite. Cada pancada do badalo na campainha soava muito distinta, muito, vibrante.

Lenita mudava de posição, revolvia-se na cama, não dormia não podia adormecer.

Uma obsessão mordente subia-lhe da peripheria do corpo, comprimia-lhe o coração, atordoava-lhe o cerebro.

Sentia picadas na pelle, tinha calafrios, zuniam-lhe os ouvidos.

Sugando-lhe as feridas feitas pelos aguilhões da cobra, Barbosa retirára um veneno, mas deixára outro. Lenita nunca mais cessára de sentir a sucção morna, demorada, forte, dos labios de Barbosa em torno às picadas, no peito do pé. A sensação extranha, deliciosa, incompatavel que produzira essa sucção perdurava, vivia; mais ainda, multiplicava-se,