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a carne
va a Lenita, como Pygmalião à Galatéia, como Miguel Angelo ao Moysés.
Chegava um momento em que se não podia conter: com um grito rouco, aspero, suffocado, de bode em cio, atirava-se, ella atirava-se tambem, e ambos cahiam sobre um sofá, sobre o assoalho, estreitando-se, mordendo-se, devorando-se.
Por vezes fazia com que Lenita se frizasse, se espartilhasse, se enflorasse, se enluvasse, com todo o capricho, com toda impertinencia de uma leoa da moda, que se prepara para um baile do high-life, para um sarau diplomatico.
Elle ajudava-a, servia-lhe de camareiro, orgulhoso, radiante.
Todo aquelle apparato do mundus muliebris, toda aquella expansão de garridice era para elle, para elle só, para mais ninguem.