livros, que nunca privou com sabios nem letrados, que nunca conviveu com gente instruida e educada?
Ah! é que esse homem, esse grande infeliz, teve uma mãe, uma mulher rude e simples, ingenua e ignorante, que na sua infancia, acalentando-o nos braços ou entretendo-o no colo, lhe dizia e lhe explicava, mostrando-lhe o azul do ceu e o brilho das estrelas, que, para além d'esse ceu e d'essas estrelas, havia um misterio terrivel e augusto que não era dado a ninguem transpôr nem devassar, e onde a existencia dos homens se refundia e completava, depois da morte da materia, numa existencia, eterna e bemaventurada para os bons e os humildes, os que na terra sofrem e são desgraçados, ou semeiam de boas obras o caminho.
Por outros caminhos da alma e da linguagem se gerou e gravou no seu espirito e na sua consciencia a compreensão do inevitavel e do infinito, o sentimento da imortalidade da alma e a vizão consoladora d'uma justiça absoluta. E foi esse sentimento e essa lembrança que prevaleceram sobre a sua paixão e o seu odio, iluminando-o com a luz divina das recordações d'um coração de mãe, nessa hora tenebrosa de desvario do seu espirito turbado pela desgraça.
Mas a que vem tudo isto?
Que idea foi esta de trazer para a luz da publicidade o Charuto, um mendigo, um pária, um zéro social, cuja vida não preocupou ninguem e cuja morte ninguem sentiu?