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Página:A Dança do Destino - Lutegarda Guimarães de Caires (1913).pdf/62

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Collecção Antonio Maria Pereira

corpos, ao abrigo das inclemencias do tempo, e não vivam completamente abandonados como os cães sem dono e como o triste personagem que inspirou esta narrativa.

Pobre Charuto! Tu que sofreste todas as privações, que nunca pudeste reunir uns vintens para pagar uma cama onde descansassem um pouco mais confortadamente os teus membros doridos pelas fadigas da fome e do esmolar do dia, e cujo esqueleto ainda, decerto, foi render uns doze mil reis ao Pre- feito da Escola Medica, que tem o macabro privilegio de desnudar os ossos dos mortos abandonados, para os vender aos estudantes de medicina, como tu te sentirias satisfeito no outro mundo e compensado do que sofreste neste, se o Estado, ouvindo o meu apelo, cuidasse de remediar a sorte dos teus irmãos de infortunio, proporcionando-lhes o abrigo que não tiveste e cuja falta te motivou a morte!