O pae de Mario dava um cavaco enorme com isso. Havia de mudar-se de casa, só para acabar aquela intimidade com o filho do comunista.
Cada vez que Mario ouvia esta ameaça, ficava triste e cabisbaixo, e nas paginas, brancas, do livro do seu destino marcava um dia infeliz.
Deixar de brincar com o Arthur! O que ficaria sendo então a sua vida?
O vacuo, as trevas, o implacavel nada... um horror!
Mas a mãe, que era uma santa, fazia sempre o milagre de desviar as paternas tempestades de cima da sua cabecita de cabelos louros, contrastando com os seus olhos castanhos.
E êle sorridente e feliz deitava a correr para o quintal, onde, num pronto, aparecia, acima do muro, a cabeça do Arthur emoldurada de cabelos negros, a contrastarem com o azul dos olhos.
Mario era feliz com aquela amizade pelo sentimento da sociabilidade, tão necessario à sua natureza afectiva para que a vida fosse uma alegria como o perfume é indispensavel à rosa para que ella seja, eternamente, a rainha das flores.
Arthur, pelo contrario, apreciava a amizade de Mario pelas utilidades inherentes e consequentes que lhe cahiam todos os dias na blusa, como uma chuva de dádivas, sob a forma de gulodices, que este apanhava á mão, ás escondidas da mãe, e de cigarros esquecidos pelo pae, com os quais os dois bregeiros ensaiavam o veneno da nicotina, escondidos num recanto do quintal, desvanecidos e enlevados nas espi-