Saltar para o conteúdo

Página:A Dança do Destino - Lutegarda Guimarães de Caires (1913).pdf/89

Wikisource, a biblioteca livre

A dança do destino
87

estivesse direito, isto é, se a sociedade estivesse organisada como êle indicou no seu discurso, se não houvesse uns que tinham muito, que tinham de mais, ontros que tinham de menos; uns que tinham tudo e outros que não tinham nada.

Passados mezes, os dois amigos encontraram-se.

Mario ía radiante: Fazia anos nesse dia e o pae tinha lhe dado nma libra em oiro.

Arthur vinha cabisbaixo, soturno e desconfiado.

O primeiro teve um alvoroço, o segundo sentiu um retraimento; naquele atuava a alegria da saudade satisfeita, neste o constrangimento da vergonha e da inveja.

Mario compreendeu o primeiro, mas não suspeitou da segunda.

Arthur tinha as botas cambaias, o casaco rôto num dos cotovelos, os calções poídos e desbotados, a camisa e o colarinho sem gôma.

Mario olhou para si e viu-se bem vestido, trajado de novo, quasi um principe, comparado com o pobre amigo.

Não se poude conter perante este confronto e tamanha desegnaldade, que achou injusta, e cheio d'uma enorme piedade, muito expansivo e afétuoso, tirou do bolso a libra que o pae lhe havia dado e, entregando-lha, disse:

— Olha Arthur, nós havemos sempre de ser