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Página:A Esperanca vol. 1 (1865).pdf/116

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A Esperança

 

Carta

A' exm.a snr.a D. Maria Adelaide Fernandes Prata

Poz-me na obrigação de responder-lhe, o modo attencioso e polido com que v. exc.a se ha para comigo, nas poucas que me dirige no numero antecedente d'este jornal. Senti suscitar entre nós tal controversia, por que eu, suppondo mesmo que a voz da minha consciencia modulasse o hymno da victoria, curvava-me vencido ante a extrema delicadeza da minha antagonista. Todavia, são isto bagatellas, que nada prejudicam, que não diffamam reputações, aliás bem merecidas como a de. v. exc.a e que podem ter e bem de nos fazer apostatar de quaesquer idéas, que nunca deveriamos seguir. Eu penso que a familia das mulheres litteratas devia de ter orgulho bastante para dar de mão ás censuras dos homens orgulhosos. Parece o sexo feminino havel-os em grande consideração, manifestando o resentimento que lhe provem da critica d'elles. Eu, cuido que os chuveiros das ligeiras tempestades da critica não podem aguar a chamma do talento, com que Deus incendeia o craneo do escriptor. Se ninguem póde roubar o sôpro da inspiração, que torna immortal o poeta, pouco devem importar as criticas ridiculas das almas ambiciosas e mesquinhas. So o lôdo, com que pretendem os censores officiosos manchar os verdadeiros talentos, póde, aos olhos do publico, desdoirar a ambula em que elle venera esses nomes laureados, apra a opinião dos homens lidos e sensatos em nada os prejudica e mancha. Que importa o tribunal dos homens nescios, se das vãs cabeças dos juizes hão-de nascer sentenças vãs, como a mãe d'onde vieram?..

V. exc.a publicando uma carta em censura aos homens que escrevem, offendia a todos e não só aquelles que a criticaram. Eu, rabiscador de insulsas prosas, magoei-me, então, por me ver aggredido tão injustamente. Quando li o ressentimento de v. exc.a alé d'alguns livros francezes firmados por nomes de mulheres, via eu, sobre a minha banca, um livro de poesias e um poemetto — o filho de Deus — de v. exc.a, as scenas romanticas da snr.a D. Henriqueta Elysa e a luz coada por ferros da snr.a D. Anna Placido. Provas estas de que tambem venero os vigorosos talentos das mulheres contemporaneas. V. exc.a tinha atirado a luva, não levantal-a era cobardia; n'esta situação deveras me doeu o silencio dos collaboradoes da Esperança. Media as forças litterarias dos meus dezeseis annos e então... achei-me novo em tudo. Assim, não metteria pé na arêna do combate, se a voz da consciencia não me estivesse dizendo que v. exc.a se faria catechumena das minhas idéas e crenças. A nobresa que o talento da', ganha-se pelo estudo. E' phrase minha, que v. exc.a soblignou. Pouco me importou a citação, mas conheço que era ahi desnecessaria. O que eu diss, sabe-o toda a gente. Todos nós sabemos que o estudo é o chrysol onde o talento se purifica e lava. Agora, fallarei quanto ás palavras de v. exc.a Pois, v. exc.a não teem estudo? Se não o teem, é por que o não querem ter. Não podem vv. exc.as compulsar os mesmos livros que nós? Escreveriam os authores exclusivamente para o sexo masculino? Eu creio que não. Os misteres domesticos roubarão tempo para trabalhos litterarios? Penso que não. Os homens tambem depois das lides materiaes da vida publica é que appunham da penna para escreverem tantos livros, que nós admiramos.

Diz v. exc.a que não é de admirar que eu tenha achado pouco correctas as producções do sexo feminino, quando muitas vezes as de grandes talentos masculinos teem defeitos. VV. exc.as [ha excepções que não precisam tal] podiam corrigir-se, estudando mais e escrevendo menos. Não pensem, que fallo levado pela ambição. Não. E' que eu queria, que a mulher soubesse tanto co-