Página:A Esperanca vol. 1 (1865).pdf/135

Wikisource, a biblioteca livre
A esperança
135

 

Sem ti não pode a minh'alma
Conceber aspirações.
Mas um teu sorriso acalma
De meu peito as ambições!..
E's essa luz scentillante
Que eu procuro a todo o instante?!

Quem és tu? que vens fazer
A meus sonhos de donzella?
P'ra que sempre te hei-de ver
alu No mar, na fulgida estrella;
Nos prados, no ceu, na lua,ro
Sempre, e em tudo a imagem tua!!..

Se durmo, vejo-te em sonhos
Do ceu á terra descer!
E com teus olhos risonhos,
Onde lampeja o praser,
A fitar-me, e sem fallar
Ao throno de Deus voar!!

Quem és visão encantada
Candida filha dos ceus?
Acaso foste fadada
A seguir os passos meus?
Bem vinda sejas então
Estrella, luz, ou visão,

Veiga, 6 de março de 1865.

D. Ephigenia do Carvalhal Souza Telles.

 

 

Maria Isabel

por

Maria Peregrina de Sousa

Dedicado á memoria de minha irmã

Não dá quem tem,
senão quem quer bem
.

Rifão


(Continuado da pag. 123)

XVI

Alvitre intempestivo

No dia seguinte appareceu Amaral. Vinha visitar a snr.a D. Ermelinda e mostrou-se muito admirado de ver Maria Isabel. Esta parecia perturbada, o que não desagradou ao cavalheiro, que lhe fallou com interesse e pezar. Os seus novos motivos de tristeza o commoviam, dizia elle, excessivamente; e acrescentou:

― Sei o que é perdeer alguem que se ama. E estou talvez em vesperas de soffrer um d'esses golpes que nos deixam a alma amargurada por muito tempo.

A allusão á morte de D. Maria Carlota fez derramar lagrimas á filha infeliz. Amaral continuou, voltando-se para Ermelinda:

― Minha esposa, a sua boa amiga, esta cada vez peior.

― Que pena! exclamou Ermelinda levando o lenço aos olhos. E accrescentou passado pouco:

― Mas v. exc.a é novo e tem muitos merecimentos e muita riqueza, achará logo outra esposa que o console da perda que vai soffrer.

― Oh! nunca, nunca! A sua morte fará a minha desesperação!

E sahiu, como se na verdade estivesse já desesperado.

― Se eu percebo!.. pensou a infame mulher. Se a pequena perde a esperança de casar