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Página:A Esperanca vol. 1 (1865).pdf/147

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A esperança
147

 

«E' tua, é tua a minh'alma,
«Guiomar.
«Eu só quero e busco a palma
«D'este amar.

Recebe, dou-te esta vida
«Em botão.
«Da-me o teu amor, querida,
«E mais... não.

«Eu dava... dava o universo
Por ti só.
«Quero erguer-me, vivo immerso
«Entre pó....

«Ves estas luzes immensas?
«Ves, tu, bem?
«Ainda são mais as crenças
«Que a alma tem.

«De ti ao dia me lembro
«Vezes mil...
«Troca este arido dezembro
«Em abril...

«Da vida na primavera
«Ha ua flôr.
«E' eterna como a hera...
«E' — o amor...

«Estrella, que me deslumbra
«E seduz,
«Envelhici na penumbra,
«Quero a luz...

«E' tua, é tua a minh'alma,
«Guiomar.
«Eu só quero e busco a palma
«D'este amar...»

Tocára a orchestra uma valsa
E foram ambos dançar,
Como ás vezes d'entre a balsa
Sae um casal a voar...

(Continúa.)

 

 
Mulher Perdida

Não a odieis, não, vós outras que tivesteis a fortuna de vos não desviardes da estrada da virtude; mas não ergaes a fronte orgulhosa e altiva, cuspindo-lhe no rosto e afastando-vos d'ella com receio de vos contaminardes aspirando junto a si o ar que crêdes infeccionado por essa desventurada... Porém, olhai a differença que houve do seu ao vosso nascimento: — Vós rodeadas de grandezas, sem vos faltar um só atavio d'aquelles que fazem realçar vossas graças e belleza; vós habitando em vastos e sumptuosos palacios dos quaes cada portatem seu pagem qne póde estorvar a entrada a algum amoroso amante. E ella nasceu pobre! Mas joven e bella tem como vós as mesmas aspirações, de seja garridices, quer como vós fazer conquistas; tudo n'ella é como em vós, vida, esperança, amor!.. Mas olha em roda de si e só vê pobreza!.. Resiste algum tempo ás seducções, porém, as promessas continuam, promessas d;um futuro brilhante, que lhe annuncia a abundancia; mas elle não desanima, continúa a combater a sua victima que está já enlevada na contemplação de ricas prendas, que jamais possuiu e que a sua candidez não soube recusa. E como não tem quem guarde suas portas, céde aos rogos d'abrir a deshoras a unica que tem a sua pequena e pobre casa!.. Eis o primeiro passo da perdição!.. Mais eil-a já coberta d'ouropeis, eil-a já no meio das grandezas, frequentando os theatros, passeando de carrinho. Eil-a que adquire novas relações, recebendo novos amantes quando o primeiro está ausente... Oh! ninguem a inveje... que em breve suas sedas e velludos irão desapparecer ficando-lhe os vestidos d'outr'ora, ou talvez que inda mais pobres!.. O primeiro amante que anhelava um pretexto para abandonal-a retira-se sem custo e sem remorsos pela ter pervertido e os segundos que a veem menos pretendida já não teem empenho de a possuirem... E eil-a agora despresada pela classe opulenta e gastando sem economia quanto possuia!... Eil-a outra vez pobre!.. Mas agora bem mais desgraçada, porque cahida na senda do vicio, tem outras ambições, quer só regalos e commodidades, não se sujeitando mais ao trabalho do qual vivia, antes de se prostituir. Não a odeies... cada vez é mais infeliz!..

A sua vida desregrada roubou-lhe antes do tempo a formosura; as faces que desputavam a alvura do jasmin e o encarnado da rosa tornaram-se macillentas e descóradas e os olhos amor-