elles disseram-me: ― A amisade de Paulino é para nós tão honrosa, elle faz-se tão digno por suas virtudes, que nós estamos sobejamente recompensados vendo as suas melhoras.
«Fui em seguida vêl-o e fiquei satisfeito porque o encontrei sem febre.
«Se assim continuar com melhoras ahi appareceremos no dia tres de Maio.» etc. etc.
― Como Deus ouviu os nossos rogos ― disseram as duas meninas chorando d'alegria.
O snr. Anselmo, e Rosa desciam appressadas para saber as boas novas; as duas amigas entregaram a carta ao snr. Cunha, e subiram para casa.
Havia poucas horas que ellas julgavam suprema felicidade o receberem carta do Marquez, mas a nossa ambição é insaciavel, por isso nunca se pode satisfazer!
A mesma anciedade as dominava esperando pelo dia tres de Maio!
O mez de abril despedia-se com um formoso dia!
Grande quantidade de flôres proprias da estação, enfeitavam o jardim de Clotilde, bellas mariposas de matizadas côres, adejavam em volta d'ellas. Em um povoado viveiro cantavam á porfia lindos canarios, e attraiam com seus gorgeios ledos pintasilgos que vinham poizar-se n'uma flôrida acacia que estava em frente.
Toda a natureza parecia sorris contemplando-se tão enfeitada.
As duas emninas não gosam d'estes encantos: estão ambas inclinadas sobre o vestidor, e bordam com actividade um rico manto de setim azul aonde ellas semeia prateadas estrellas.
Este manto haviam-n'o promettido á Virgem dos Remedios, se Paulino melhorasse, e ellas queriam cumprir a promessa antes da vinda do mancebo.
― Tu já deves estar cançada, Josephina?
― Oh! não estou, bem vês que quando se trabalha com gôsto não ha fadiga; e de mais tu é que tens bordado o manto quasi todo, e eu apenas bordei o véu do calix que promettemos ao Santissimo Sacramento.
― Não importa, eu quero acabar o manto; e tenho bastante tempo, pois ó ámanhã o levaremos á Ermida.
― Ainda temos tres dias de espera, e elles passam tão devagar!
― Quem sabe se teu irmão poderá vir?
― Já me lembrou isso mesmo, e talvez meu pai não possa esperar por elle.
― Pois a mim parece-me que teu pai o não deixa lá ― o dia tres de maio acabava de raiar.
Ainda o sol não tinha nascido, e já as duas meninas estavam levantadas.
― Eu vou mandar preparar um quarto e cama para teu irmão.
― E eu vou colher flores para as jarras. Nós havemos de mostrar-lhe em tudo a nossa alegria.
Seriam oito horas quando o velho marquez de Santa Eulalia entrava na casa de Clotilde. Elle dirigia-se para a sala de visitas, e as duas meninas, com as costas voltadas para a porta, enchiam as jarras de flores. Tão entertidas estavam, que não deram pela chegada do marquez!
― Como estão lindos estes rainuclos! Estas gôtas de orvalho parecem perolas.
― E talvez o sejam ― disse o marquez ao pé d'ellas.
As meninas voltaram-se surprehendidas, e lançaram-se ambas nos braços do nobre velho.
Os olhos de Clotilde procuravam Paulino, quando Josephina desprendendo-se dos braços de seu pai, lhe perguntou por elle.
― Não vem ― respondeu o marquez ― eu queria esperar mais uns dias, mas elle instou tanto para que o deixasse ficar, porque desejava