Página:A Intrusa.djvu/167

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grave da moça ressuscitava uma visão de sonho que perturbava o espírito de Argemiro. Ele curvou-se, beijou-lhe as pontas dos dedos gelados e, com a voz engasgada pela comoção, afirmou:

– Eu não a tinha compreendido, distanciado como estou da sua idade e da sua perfeição... Consinta que eu volte no dia em que o seu coração de menina tiver encontrado um outro coração moço e digno dele! Bastará então uma palavra sua: venha!

Sinhá não respondeu. Argemiro aceitou o agasalho das mãos dela e saiu comovido, tonto. Fora, as estrelas palpitavam luminosamente no fundo aveludado do céu. O ar cheirava a flores. E o viúvo caminhava a pé, sozinho, pensando nas surpresas desta vida de civilização, e revendo a palidez da moça, o seu olhar sincero e transparente. Não teria ele repelido a felicidade?

Entretanto, vendo-o sair, Sinhá recolheu-se para trás do biombo, chorando devagarinho, devagarinho, em segredo.