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Página:A Intrusa.djvu/178

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– Por que te indignas?

– Não...

– Acaba...

– Sem ter posto os olhos nunca em cima desta pobre moça, parece-me que a conheço já há muito... Ela fiava-se naturalmente na sua altivez para defender-se de qualquer assalto. Por que não acreditar que tenha, como tu disseste, vindo acossada pela miséria, estonteadamente, até a minha porta? A única impressão que tive dela, no dia em que a contratei, foi a de lhe ver as botinas esfoladas... Não lhe vi o rosto, que o trazia velado; mas vi-lhe os pés. Caprichosa como revela ser em tudo, bem vês que só por grande necessidade se sujeitaria a andar assim...

– Por que só uma pobre se sujeita a tal posição, naturalmente; mas as pobres honestas têm outros meios de ganhar o pão, menos suspeitos e sobretudo menos arriscados... Tua sogra tem uma certa pontinha de razão na insensatez do seu ciúme... De fora ninguém pode acreditar que esta situação seja senão uma fantasia.

– Mas que têm com isso?

– Nós outros, nada; mas tua sogra talvez tenha alguma coisa, por causa da tua filha!

– Não é por causa de Maria... é por mim! Minha sogra é uma sentinela sempre alerta na defesa do meu coração. Ela não se importa que