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o pescoço, a ver se via, ainda que de longe, a filha.

Antes que o carro chegasse à casa, Maria da Glória atravessou aos gritos um grande relvado lateral da rua e, irrompendo de entre as mangueiras, atirou-se para o carro alegremente:

– Papai! papai!

O cocheiro mal teve tempo de diminuir a marcha do animal e ela trepou para o estribo, enfiando no carro a cara afogueada e risonha. O pai segurou-a, puxando-a para dentro, sem coragem de ralhar com ela por aquela imprudência. Tentou falar, ela cobriu-lhe as barbas de beijos.

– Que exuberância! – exclamou Caldas, rindo.

Chegavam à porta do velho palacete dos barões do Cerro Alegre.

No patamar da escada, o sogro do Argemiro, barbeado de fresco, com o seu corpo franzino dentro de brins bem alvejados e o boné de seda preta seguro na mão fina e nervosa, sorria à espera dos hóspedes, a quem abraçou.

– Mamãe?

– Espera-os na sala do meio. Entrem.

Argemiro aprendera com a mulher a chamar a baronesa de mamãe; percebendo agora quanto aquele título comovia o coração da velha, continuava a dispensá-lo de bom grado. Era como se a alma da morta lhe passasse pelos lábios