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Página:A Maravilhosa Vida de Santos=Dumont.pdf/13

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Capitulo II – Ficção versus Ciência



Naquele começo de noite Santos=Dumont encontrou-se com H. G. Wells num aconchegante hotel, Santós deixou o pequeno Marciano na mesa de centro do lobby, Wells não conseguia tirar o olho do tal invento.

“Quando olho para este aparelho me convenço que é disto que precisava para equipar os Marcianos na Guerra dos Mundos”. Disse Wells em alta voz como quem tenta quebrar o gelo.

Ambos olharam para o aparelho por alguns segundos antes que caíssem em gargalhadas.

“Sim” disse Santós “este aparelho, ou melhor, o nosso ’Conversor Marciano’ soltaram alguns risos juntos “é utilizado de forma secundária para ajudar esquiadores a subir às encostas das montanhas nevadas com menos esforço, mas ele tem como foco inicial o propósito de desvendar alguns dos muitos mistérios envolvidos no vôo ornitóptero”.

“Não estou bem certo se entendi...” Sr. Wells debochando de um certo brilho de excentricidade no olhar de Santos=Dumont.

”Há indicações teóricas que um aparelho, munido de motor de 7 cv de força, com um metro de superfície a alar a bater vinte vezes por segundo, centraliza a ação do peso e pode sustentar no espaço uma carga de aproximadamente 100 quilos, trata-se porém de uma teoria. Na prática ainda não se obteve coisa alguma, no campo do vôo artificial feito por asas vibratórias, como as dos insetos, e mesmo hoje, esse tipo de vôo não passa de vaga hipótese para realização em tempos muito distantes aos nossos”.

“Fascinante!” afirma o Sr. Wells enquanto pondera suas dúvidas “diga-me Sr. Dumont seus inventos sempre começam de forma tão difusa? A impressão que tenho é que disfarça grandes inventos em inocentes e inofensivos utensílios de diversão”.

“Se engana Sr. Wells, coloquei minha vida diversas vezes em perigo para dar os passos que me trouxeram até aqui, não há nada de inocente em colocar hidrogênio em um invólucro e fazê-lo locomover-se pelo ar próximo a motores a explosão, no entanto sem dúvida, diverti-me muito e experimentei de prazeres que poucos ou nenhum homem até hoje jamais viveu”.

Após um breve silêncio, Sr. Wells inicia sua fala com um tom mais simpático “Por favor chame-me de Herbert” pediu Sr. Wells com um sorriso amigável “Por diversas vezes tentei entender o que passa na cabeça de pessoas como o Senhor, grandes e intrépidos exploradores e frustra-me dizer que nunca fui capaz de entender. Talvez tenha sido por isso que nunca dei um nome ao viajante do tempo em meu romance The Time Machine”.

“Pensei que seu personagem não tinha um nome por ser ele apenas um homem em meio a um sistema socialista, alguém que abriu mão de sua individualidade” ambos riram novamente enquanto Santós acrescenta ”O Sr. pode chamar-me de Santós, afinal é assim que todos meus amigos carinhosamente me chamam”.

“Seguramente” afirma Herbert “creio que de uma certa forma nossas experiências nos completam, não tenho dúvidas que nas inúmeras vezes que estiveste a bordo de seu número 9 sentia-se como o conquistador Robur de Julio Verne, no entanto quando escrevo meus personagens, busco traçar a personalidade de exploradores como o Senhor , e então cria-se um vácuo que sou obrigado a preencher com criatividade”.

De forma bastante condolescente com seu novo amigo Santós afirma “sinto que tenho o mesmo problema quando tento desenvolver minhas máquinas voadoras baseando-se no que escritores de ficção escrevem. Jamais faria voar uma máquina como o Albatroz de Verne seguindo suas descrições, e então o seu tal vácuo também se forma. Para conceber máquinas voadoras, precisamos ter uma atitude mais prática, simplista e realista”.

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