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Página:A Maravilhosa Vida de Santos=Dumont.pdf/55

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Consagrei os lazeres da travessia á leitura desse livro, que foi para mim uma revelação. Acabei decorando-o como se fora um manual escolar. Detalhes de construção e preços abriram-me os olhos. Enfim, eu chegava a ver claro! O enorme balão de Andrée — do qual a capa trazia uma reprodução fotográfica, mostrando os flancos e o ápice escalados, como uma montanha, pelos operários encarregados de enverniza-lo — esse enorme balão, dizia eu, não havia custado, construção e equipamento inclusive, senão 40.000 francos. Chegando a Paris, decidi-me a deixar de lado os aeronautas profissionais e dirigir-me aos construtores. Meu empenho particular era conhecer o sr. Lachambre, que havia construido o balão de Andrée, e seu associado o sr. Machuron, autor do livro. Dirigi-me a oficina dos construtores ba Rue Favorites em Vaugirard, espantou-me a quantidade e a variedade de bonecos infláveis, ora flutuando com gases mais leves que o ar, ora bizarramente acomodados murchos nos cantos.

Digo com toda a sinceridade que encontrei neles o acolhimento que desejava. Quando perguntei ao sr. Lachambre o preço de um ligeiro passeio em balão, fiquei tão surpreso com a resposta que lhe pedi que me repetisse:

— Uma ascensão de três ou quatro horas, com todas as despesas pagas, incluindo o transporte de volta do balão em caminho de ferro, custar-lheá 250 francos.

— E as avarias? arrisquei eu.

— Mas, retrucou o meu interlocutor, rindo, nós não vamos ocasionar avarias.

Fechei imediatamente o negocio. E combinamos tudo para a manhã do outro dia.

Guardo uma recordação indelével das deliciosas sensações de minha primeira tentativa aérea.

Cheguei cedo ao parque de aerostação de Vaugirard, afim de não perder nenhum dos preparativos. O balão, de uma capacidade de 750 metros cúbicos, jazia estendido sobre a grama. A uma ordem do ar.

Lachambre, os homens começaram a enche-lo de gás. E em pouco a massa informe começou a se transformar numa vasta esfera.

Às 11 horas tudo estava terminado. Uma brisa fresca acariciava a barquinha, que se balançava suavemente sob o balão. A um dos cantos dela, com um saco de lastro na mão, eu aguardava com impaciência o momento da partida. Do outro, o sr. Machuron gritou:

— Larguem tudo!

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