Sob a ação combinada do propulsor, que lhe imprimia movimento, do leme, que lhe permitia a direção, do guiderope que eu deslocava, e dos dois sacos de lastro que eu fazia deslizar conforme a minha fantasia, ora para diante, ora para trás, logrei a satisfação de evoluir em todos os sentidos, da direita para a esquerda, de cima para baixo e de baixo para cima.
Enquanto estive subindo, o hidrogênio, em razão da depressão atmosférica, aumentou de volume; e o balão, bem esticado, conservou sua rigidez; tudo ia pelo melhor. A complicação foi, porém, na descida. A bomba de ar destinada a obviar a contração do hidrogênio mostrouse de capacidade insuficiente. O longo cilindro, que formava o invólucro, repentinamente começou a dobrar-se pelo meio, como um canivete. A descida foi feita a razão de 4 a 5 metros por segundo. Por felicidade um grupo de meninos brincava com papagaios. Uma súbita idéia atravessou-me o espírito: gritei-lhes que agarrassem o meu guiderope, que já tocava o solo, e corressem com toda a força contra o vento. Eram garotos inteligentes, pegaram no instante propício a idéia e a corda. E o resultado deste auxilio in extremis foi imediato, e tal qual eu esperava. E depois variei assim os meus prazeres:
Subi em balão e desci em papagaio.”
Todos riem alto na mesa chamando a atenção das mesas ao redor.
“Uma coisa que bem admiro no Senhor Alberto” segue Soriano “é de como tens fãs e de como eles atuam como uma torcida, muitas vezes até interferindo em seus trabalhos”.
“Sim, por diversas vezes saí de situações nas quasi minha vida encontrava-se em risco a custa de meus fieis fãs. Já lhes contei do acidente que sofri no Hotel Trocaderó?”
“Tio, temos a noite inteira pela frente, suas proezas aéreas fazem parte do prato principal desta noite” responde Yolanda pronta para escutar muitas historias.
“No entanto, Alberto” complementa Soriano “conte me como evoluiu seus inventos do numero 1 até os últimos modelos. Quais modificações fez no numero 1 até que ele virasse o numero 2, 3, 4... assim por diante”. “Muito bem. Aquela manobra na qual transformei minha aeronave em pipa, amorteceu a violência da queda e evitou-me, pelo menos, um choque perigoso. Estava eu salvo pela primeira vez! Agradeci o inestimável serviço dos bravos meninos, que ainda me ajudaram a arrumar as coisas dentro da barquinha. Chamei uma carruagem, e transportei para Paris as relíquias da aeronave. Os próximos passos se apresentaram a mim a partir do momento que identifiquei os meus erros, tomando como combustível a adorável emoção de realizar proezas únicas. Seguindo com o raciocínio da Natureza de Lineu, as modificações evolutivas de meus inventos seguiu a passos muito bem definidos, sem sobre-saltos. Apesar do acidente, não experimentei nessa noite senão um sentimento de enlevo. A lembrança do êxito enchia-me a alma. Eu havia navegado no ar. Havia realizado todas as evoluções que o problema comporta. O acidente em si não era devido á nenhuma causa prevista pelos aeronautas profissionais.
Eu havia subido sem sacrifício de lastro; descera sem sacrifício de gás; meus pesos deslocáveis haviam funcionado com pleno efeito; ninguém podia negar o triunfo dos meus vôos oblíquos. Ninguém, antes de mim, fizera igual.
Bem entendido, no momento da partida, ou pouco depois de deixar o solo, acontece ás vezes que o aeronauta se vê forçado a deitar fora lastro para equilibrar a máquina. Um erro é natural, e pode-se ter largado com um excesso de peso. Não quis falar senão de manobras aéreas.