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Página:A Reforma da Natureza (12ª edição).pdf/70

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MONTEIRO LOBATO

de chuva do mês de fevereiro nos atrapalhou o negócio. Enquanto ficamos presos em casa, o enxurro varreu com o cercadinho e levou não sei onde os operados. Isso foi o que fizemos. Agora, se esses monstros que estão aparecendo são os operados, a culpa não é nossa — é lá das tais Tiróide e Pituitária.

Aquelas revelações encheram o Dr. Zamenhof do maior assombro. Parecia-lhe impossível que um simples sabugo científico, auxiliado por uma gentinha como a Emília, houvesse feito "milagres endocrínicos" muito maiores que os realizados por todos os grandes especialistas da Alemanha e da América do Norte. Simplesmente formidável!

— Sabe — disse ele ao Visconde — que o colega fez a maior coisa que ainda foi feita nos domínios da ciência? Sabe que resolveu problemas tremendos e que daqui por diante a ciência vai basear-se nestas suas maravilhosas experiências?

O Visconde alisou as palhinhas de milho do pescoço e agradeceu modestamente o elogio.

— Quero ver o seu laboratório — disse o Doutor. — Deve ser a maravilha das maravilhas.

Mas quando foi à Cova do Anjo e viu que o maravilhoso laboratório não passava dum buraco na figueira, com um microscópio feito dum velho binóculo sem vidro, uma lâmina Gillette, umas agulhas e uns algodõezinhos, ficou sem saber o que pensar, nem o que dizer. Aquilo era positivamente o assombro dos assombros, o espanto dos espantos.

— Não entendo — disse ele. — Parece-me de todo impossível que com estes rudimentaríssimos recursos o Visconde conseguisse os prodigiosos resultados que conseguiu. Não entendo. E creio que se eu ficar aqui mais uns dias, acabarei louco. Cada vez mais me espanto com as coisas que vejo...

— Não se afobe, Doutor! — disse Emília. — O nosso segredo é o Faz-de-Conta. Não há o que não se consiga quando o processo aplicado é o Faz-de-Conta. O nosso grande segredo é esse.

O barbudo sábio ficou na mesma, com perfeita cara de asno, e mais uma vez murmurou:

— Não entendo. . .

— Pois faça de conta que entende, Doutor, e vamos tomar o café. Agora é com pipoca. . . — concluiu Emília, puxando-o pela aba do paletó.

* * *