em chammas, Adamastor, a capella de S. Roque, o Tejo e outras glorias, escrevi largamente em curvas mais enfunadas que velas de galeões: — «Raposo, Portuguez, d’Áquem e d’Álém-mar.» E logo, do canto, um moço magro e murcho, murmurou, suspirando e a desfallecer:
— Em o cavalheiro necessitando alguma coisa, chame pelo Alpedrinha.
Um patricio! Elle contou-me a sua sombria historia, desafivelando a minha maleta. Era de Trancoso e desgraçado. Tivera estudos, compuzera um negrologio, sabia ainda mesmo de cór os versos mais doloridos «do nosso Soares de Passos.» Mas apenas sua mamãsinha morrêra, tendo herdado terras, correra á fatal Lisboa, a gozar; conheceu logo na travessa da Conceição uma hespanhola deleitosissima, do adocicado nome de Dulce; e largou com ella para Madrid, n’um idyllio. Ahi o jogo empobreceu-o, a Dulce trahiu-o, um chulo esfaqueou-o. Curado e macilento passou a Marselha; e durante annos arrastou como um frangalho social, através de miserias inenarraveis. Foi sacristão em Roma. Foi barbeiro em Athenas. Na Morêa, habitando uma choça junto a um pantano, empregára-se na pavorosa pesca das sanguesugas; e de