dedicadas á Paixão — a do Improperio onde o Senhor foi flagellado, a da Tunica onde o Senhor foi despido. Depois subimos, de tochas na mão, uma escadaria tenebrosa, escavada na rocha... — E subitamente todo o tropel devoto se atirou de rojo, ululando, carpindo, gemendo, flagellando os peitos, clamando pelo Senhor, lugubre e delirante. Estavamos sobre a Pedra do Calvario.
Em torno a capella que a abriga resplandecia com um luxo sensual e pagão. No tecto azul-ferrete brilhavam soes de prata, signos do Zodiaco, estrellas, azas d’anjos, flôres de purpura: e, d’entre este fausto sideral, pendiam de correntes de perolas os velhos symbolos da Fecundidade, os ovos de avestruz, ovos sacros d’Astarté e de Baccho d’ouro. Sobre o altar elevava-se uma cruz vermelha com um Christo tosco pintado a ouro — que parecia vibrar, viver através do fulgor diffuso dos mólhos de lumes, da faiscação das alfaias, do fumo dos aromaticos ardendo em taças de bronze. Globos espelhados, pousando sobre peanhas d’ebano, reflectiam as joias dos retabulos, a refulgencia das paredes revestidas de jaspe, de nacar e de agatha. E no chão, em meio d’este clarão precioso