Página:A Relíquia.djvu/254

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cinta, as mãos magras espalmadas para fóra:

— Nós temos uma Lei, a nossa Lei é clara. Ella é a palavra do Senhor; e o Senhor disse: «Eu sou Jehovah, o eterno, o primeiro e o ultimo, o que não transmitte a outros nem o seu nome, nem a sua gloria: antes de mim não houve Deus algum, não existe Deus algum ao meu lado, não haverá Deus algum depois de mim...» Esta é a voz do Senhor. E o Senhor disse ainda: «Se pois entre vós apparecer um propheta, um visionario que faça milagres e queira introdizir outro Deus e chame os simples ao culto d’esse Deus, — esse propheta e visionario morrerá!» Esta é a Lei, esta é a voz do Senhor. Ora o Rabbi de Nazareth proclamou-se Deus em Galilêa, nas synagogas, nas ruas de Jerusalem, nos pateos santos do Templo... O Rabbi deve morrer.

Mas o formoso Manassés, cujo languido olhar entenebrecia como um céo onde vai trovejar, interpoz-se entre o Doutor da Lei e o historiador dos Herodes. E nobremente repelliu a letra cruel da Doutrina:

— Não, não! Que importa que a lampada d’um sepulchro diga que é o sol? Que importa que um homem abra os braços e grite que é um Deus? As nossas leis são suaves: