com lanças douradas. Depois foi uma rua fresca, toda aromatisada pelas lojas dos perfumistas, ornadas de taboletas em fórma de flôres e d’almofarizes: um toldo de esteiras finas assombreava as portas, o chão estava regado e juncado d’herva dôce e de folhas d’anemonas: e pela sombra preguiçavam moços languidos, de cabellos frisados em cachos, de olheiras pintadas, mal podendo erguer, nas mãos pesadas d’anneis, as sêdas roçagantes das tunicas côr de cereja e côr d’ouro. Além d’essa rua indolente abria-se uma praça, que escaldava ao sol, com uma poeira grossa e branca, onde os pés se enterravam: solitaria, no meio, uma vetusta palmeira arqueava o seu penacho, immovel e como de bronze: e ao fundo, negrejavam na luz as columnatas de granito do velho palacio de Herodes. Ahi era o Pretorio.
Defronte do arco d’entrada, onde rondavam, com plumas pretas no elmo reluzente, dois legionarios da Syria — um bando de raparigas, tendo detraz da orelha uma rosa e no regaço coifas d’esparto, apregoavam os pães azymos. Sob um enorme guardasol de pennas, cravado no chão, homens de mitra de feltro, com taboas sobre os joelhos e balanças trocavam a moeda romana. E os vendedores d’agua, com os seus ôdres felpudos,