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os figos que coubessem no forro largo d’um turbante. O homem levou as mãos ao seio da tunica, para a despedaçar na immensidade da sua humilhação. E ia invocar Jehovah, Elias, todos os Prophetas seus patronos — quando o sapiente Topsius, enojado, interveio seccamente, mostrando-lhe uma miuda rodella de ferro que tinha por cunho um lirio aberto:

— Na verdade Jehovah é grande! E tu és ruidoso e vazio como o ôdre cheio de vento! Pois pelos figos do cesto inteiro te dou eu este meah. E se não queres, conheço o caminho dos hortos tão bem como o do Templo, e sei onde as aguas dôces de Enrogel banham os melhores pomares... Vai-te!

O homem logo, trepando anciosamente até ao parapeito de marmore, atulhou de figos a ponta do albornoz que eu lhe estendera, carrancudo e digno. Depois, descobrindo os dentes brancos, murmurou risonhamente que nós eramos mais beneficos que o orvalho do Carmello!

Saborosa e rara me parecia aquella merenda de figos de Bephtagé, no palacio de Herodes. Mas apenas nos accommodáramos com a fruta no regaço, reparei em baixo n’um velhito magro, que cravava em nós humildemente uns olhos ennevoados, queixosos,