Página:A Relíquia.djvu/305

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de Poncius ultimamente alugava, junto ao Pretorio, «á moda de Roma».

Cançado, estirei-me, com as mãos sob a nuca, no colchão de folhas seccas que cheirava a murta: e lentamente começou a invadir-me a alma uma inquietação estranha, temerosa, que já no Pretorio me roçára de leve como a aza arripiada d’uma ave agourenta... Ia eu ficar para sempre n’esta cidade forte dos Judeus? Perdera eu irremediavelmente a minha individualidade de Raposo, de catholico, de bacharel, contemporaneo do Times e do Gaz — para me tornar um homem da Antiguidade classica, coevo de Tiberio? E, dado este mirifico retrogresso nos tempos, se voltasse á minha patria, que iria eu encontrar á beira do rio claro?...

Decerto encontraria uma colonia romana: na encosta da collina mais fresca uma edificação de pedra onde vive o proconsul; ao lado um templo pequeno de Apollo ou de Marte coberto de lousa; nos altos um campo entrincheirado onde estão os legionarios; e em redor a villa lusitana, esparsa, com os seus caminhos agrestes, cabanas de pedra solta, alpendres para recolher o gado, e estacadas no lodo onde se amarram jangadas... Assim encontraria a minha patria. E que faria lá, pobre, solitario? Seria pastor