Página:A Relíquia.djvu/39

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sua cruz de pau preto, sob um docel, Nosso Senhor Jesus Christo era todo d’ouro, e reluzia.

Cheguei-me devagar até junto da almofada de velludo verde, pousada diante do altar, cavada pelos piedosos joelhos da titi. Ergui para Jesus crucificado os meus lindos olhos negros. E fiquei pensando que no céo os anjos, os santos, Nossa Senhora e o Pai de todos, deviam ser assim, de ouro, cravejados talvez de pedras: o seu brilho formava a luz do dia; e as estrellas eram os pontos mais vivos do metal precioso, transparecendo através dos véos negros, em que os embrulhava á noite, para dormirem, o carinho beato dos homens.

Depois do chá, a Vicencia foi-me deitar n’uma alcovinha pegada ao seu quarto. Fez-me ajoelhar em camisa, juntou-me as mãos, ergueu-me a face para o céo. E dictou os Padre-Nossos que me cumpria rezar pela saude da titi, pelo repouso da mamã, e por alma d’um commendador que fôra muito bom, muito santo, e muito rico, e que se chamava Godinho.


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Apenas completei nove annos, a titi mandou-me fazer camisas, um fato de pano