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Página:A Relíquia.djvu/391

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O labio tremeu-me, quando Potte commovido me estendeu a sua bolsa de tabaco d’Alepo:

— D. Raposo, é o ultimo cigarro que lhe dá o alegre Potte.

E a lagrima rolou por fim quando Alpedrinha, em silencio, me estendeu os braços magros.

Da barcaça, acocorado sobre os caixões das Reliquias, ainda o vi na praia, sacudindo para mim um lenço triste de quadrados — ao lado de Potte que nos atirava beijos, com as grossas botas mettidas n’agua. E já no Caimão, debruçado na amurada, ainda o avistei immovel sobre as pedras do molhe, segurando com as mãos, contra a brisa salgada, o seu vasto turbante branco.

Desventuroso Alpedrinha! Só eu, em verdade, comprehendi a tua grandeza! Tu eras o derradeiro Lusiada, da raça dos Albuquerques, dos Castros, dos varões fortes que iam nas armadas á India! A mesma sêde divina do desconhecido te levára, como elles, para essa terra de Oriente, d’onde sobem ao céo os astros que espalham a luz e os deuses que ensinam a lei. Sómente não tendo já, como os velhos Lusiadas, crenças heroicas concebendo empresas heroicas, tu não vaes como elles, com um grande rosario e com