Os negros remaram. Eu levava, pousado sobre os joelhos, o caixote da suprema Reliquia. Mas quando o meu bote, á vela, fendia a agua azul — passou rente d’outro bote lento, levado a remos para o lado do palacio que dormia entre palmeiras. E n’um relance vi o habito negro, o capuz descido... Um largo, sequioso olhar, pela vez derradeira, procurou as minhas barbas. De pé, ainda gritei: «Oh filhinha, oh magana!» Mas já o vento me levára. Ella, no seu bote, sumia a face contrita — e sobre o delicado peito que ousára arfar decerto a cruz pesou mais forte, ciumenta e de ferro!
Fiquei môno... Quem sabe? Era aquelle talvez em toda a vasta terra o unico coração em que o meu poderia repousar, como n’um asylo seguro... Mas quê! Ella era só monja, eu só sobrinho. Ella ia para o seu Deus, eu ia para a minha tia. E quando n’estas aguas os nossos peitos se cruzavam, e sentindo a sua concordancia batiam mudamente um para o outro — o meu barco corria com vela alegre para Occidente, e o barco que a levava, lento e negro, ia a remos para Oriente... Desencontro contínuo das almas congeneres — n’este mundo de eterno esforço e de eterna imperfeição!