Patrocinio das Neves d’outro tempo, hirta, agreste, esverdeada, odiando o amor como coisa suja, e sacudindo de si para sempre os homens que se tinham mettido com saias! Com effeito! Os seus oculos, outra vez sêccos, reluziam, cravavam-se desconfiadamente na minha mala... Justos céos! Era a antiga D. Patrocinio. Lá vinham, as suas lividas, aduncas mãos, cruzadas sobre o chale, arrepanhando-lhe as franjas, sôfregas de esquadrinhar a minha roupa branca! Lá se cavava, aos cantos dos seus labios sumidos, um rigido sulco d’azedume!... Tremi: mas visitou-me logo uma inspiração do Senhor. Diante da mala, abri os braços, com candura:
— Pois é verdade!... Aqui tem a titi a maleta que lá andou por Jerusalem... Aqui está, bem aberta, para todo o mundo vêr que é a mala d’um homem de religião! Que é o que dizia o meu amigo allemão, pessoa que sabia tudo: «Lá isso, Raposo, meu santinho, quando n’uma viagem se peccou, e se fizeram relaxações, e se andou atraz de saias, trazem-se sempre provas na mala. Por mais que se escondam, que se deitem fóra, sempre lá esquece coisa que cheire a peccado!...» Assim m’o disse muitas vezes, até uma occasião diante d’um Patriarcha... E o