Página:A Relíquia.djvu/75

Wikisource, a biblioteca livre

lado do dr. Margaride, a rua Nova do Carmo.

Occupamos as nossas cadeiras. E na sala resplandecente, branca e com tons d’ouro, eu pensava saudosamente na alcova sombria da Adelia, e no desalinho das suas saias — quando reparei que d’uma friza ao lado uma senhora loura e madura, uma Ceres outonal, vestida de sêda côr de palha, voltava para mim, a cada dôce arcada das rebecas, os seus olhos claros e sérios.

Perguntei logo ao dr. Margaride se conhecia aquella dama «que eu costumava encontrar ás sextas na igreja da Graça, visitando o Senhor dos Passos, com uma devoção, um fervor...»

— O sujeito que está por traz, a abrir a bocca, é o visconde de Souto Santos. E ella ou é a mulher, a viscondessa de Souto Santos, ou a cunhada, a viscondessa de Villar-o-Velho...

Á sahida, a viscondessa (de Souto Santos ou de Villar-o-Velho) ficou um momento á porta esperando a sua carruagem, embrulhada n’uma capa branca que uma pennugem orlava, delicadamente; a sua cabeça pareceu-me mais altiva, incapaz de rolar, tonta e pallida, n’um travesseiro d’amor; a cauda côr de palha alastrava-se sobre as lages; era