Página:A Viuva Simões.djvu/144

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o nome daquele homem há pouco detestado! O coração abria-se-lhe a um sentimento novo de simpatia e de piedade.

Sentindo-se compreendida, Sara desabafou as suas mágoas. Referiu-se à historia do retrato do pai, à mudança inexplicável do gênio de Ernestina, à maneira por que tirara o luto antes do tempo, o seu nervosismo, o modo por que evitava falar no marido, cujo nome deixara de soar em casa. Aquela ingratidão é que lhe doía muito!

Agitada pelas danças, pela música, pelo brilho da noite e o aroma voluptuoso das magnólias, Sara expandia-se, na embriaguez da dor, falando sempre, revendo-se no olhar de Luciano.

Ele deixou-se envolver de tal sorte que se indignava contra Ernestina, esquecido de que tudo o que ela fizera tinha sido a pedido e a conselho seu! E olhava para a Sara amorosamente, embevecidamente!

Atrás deles, suspensos das árvores e de festões de folhas, pendiam as lanternas multicores, como fitas luminosas apanhadas aqui e além pela mão invisível da noite. A música do jardim tocava uma fanfarra, os sons dos clarins vibravam trêmulos e límpidos, espalhando pelo espaço uma grande sonoridade!

Ernestina aproximou-se de braço dado com o Nunes e chamou a filha com voz irritada e áspera.