Não que o seu rosto fosse de linhas puras, nem que as suas palavras denunciassem a volúpia; aquele ardor, aquele domínio, vinham da sua pele, do seu olhar, do seu porte e do seu sorriso.
Decorreram anos depois de tudo isso; agora ele sabia-a boa e honesta; a sua vida de casada fora doce, invejável, simples, reta! Inda assim, era sempre a mesma impressão esquisita, meramente sensual, que essa mulher produzia nele!
Lamentava-se disso agora que, pela convivência, conhecia as maneiras e idéias severas de Ernestina, sempre tão correta e tão fria.
Aquela cena em casa da ama Josefa encheu-o de assombro e de piedade. Calculava o sacrifício que teria custado à viúva o seu coquetismo quase canalha.
Ernestina aí estava agora a seus pés, com o vestido sujo de lama, o cabelo solto, os olhos dentro de um círculo negro.
Luciano, atônito, curvou-se para vê-la bem de perto.
O criado repetiu:
- O senhor fará o que entender... mas eu sempre achava bom avisar a policia...
- Um carro, já disse! gritou Luciano com raiva; e enquanto o outro saía a procurar um carro, ele fixava com susto a fisionomia da viúva.
- Que se teria passado? As hipóteses voavam-