nunca à memória a lembrança de alguém que sofreria muito com o seu casamento?
A viúva Simões corava, alisando com a mão a preta do seu longo vestido. Conteve o desejo de contar quanto tinha chorado, na manhã do casamento, com a lembrança de Luciano... Ocorreu-lhe também o constrangimento que tinha sentido, no dia seguinte, pelo marido, vendo-o comer com a faca, ao almoço. Vieram-lhe à mente cenas desligadas, que ela repelia, sem atinar com uma resposta.
Luciano aproximava-se dela, envolvendo-a com a sua voz quente e o seu olhar macio e caricioso, ali mesmo, bem em frente às barbas fartas e ruivas do comendador Simões. As suas palavras escorriam como o mel de um favo. Ernestina, sempre de cabeça baixa, tinha o sorriso paralisado, sem coragem de por um dique àquela ternura perigosa.
Ele ousava queixar-se de ter sido esquecido! A viúva não protestava. Entretanto, lembrava-se bem! nos primeiros meses de casada aborrecia o marido e disfarçava mal esse sentimento. O seu sonho tinha sido casar e partir. Ir a Paris ver Luciano, tratá-lo com desprezo, fingir-se feliz... O marido opôs-se à viagem, o único desejo em que a contrariou, expondo-lhe razões de comércio e fortuna... Sair do Rio era impossível então: prometeu que mais tarde percorreriam o mundo!