lhe parecia escura, de uma tristeza singular: o mar, ao longe, como que um deserto de cinza; as casas, túmulos dispersos; as árvores, sombras negras e mudas!
Ernestina sentia as lágrimas queimarem-lhe as pálpebras, o coração grosso pesando-lhe no peito, e uma raiva crescente de tudo, de todos! Ficou por muito tempo olhando, até que as luzes de gás bordaram toda a cidade de pontos luminosos. Num canto, um foco de luz clara enluarava um grande círculo em um nimbo indistinto, e a viúva, aconchegando os braços ao corpo friorento, olhava para a luz, fixa, abstratamente.
Eram sete horas quando desceu ao jardim à procura da filha. Encontrou-a trepada numa escada de mão, debruçada no muro, conversando para o quintal vizinho, com a sua amiga Georgina.
Desta vez era Sara quem descrevia as suas impressões, narrando episódios vulgares do passeio e relatando o número de pessoas conhecidas, com que se tinha encontrado.
Ernestina zangou-se, desabafando contra a filha toda a sua cólera.
- Que é isso! Estás aqui com este frio?! Eu depois que te ature se ficares doente! Vamos; para dentro, anda!
- Já vou, mamãe... adeus Gina!
- Então! Que modos são esses?
- Já estou descendo, mamãe!