largas e macias. Sara corria no meio de tudo aquilo, nervosa, resfolegante como um animal de raça, mostrando as pernas finas, galgando os degraus dos socalcos, esmagando com as solas as flores claras dos morangueiros, abrindo para todas as coisas os seus olhos muito brilhantes e movendo os lábios secos na repetida suplica da sua alma: "Papai... papai..." Mas o pai não lhe respondia e ela, de vez em quando, desesperada, arrancava com repelões as frutas que a mão alcançava e atirava-as ao chão, bruta, violentamente, só pelo delírio de estragar.
As laranjas, de um verde que a maturação começava a tingir, rolavam de socalco em socalco. Grupos de jambos brancos, caíam, separando as suas campânulas de cristal rosado de mistura com araçás ainda verdes e pitangas cor de rubi. Um tapete de frutas ia-se alastrando pelo pomar, e Sara pisava, esmigalhava, mordia, rangendo os dentes nas frutas acres, ainda verdes, ou sacudia as árvores, abraçando-se aos troncos cetinosos dos pés de cambucá, ou aos galhos ásperos das goiabeiras.
Tudo a mortificava, a exacerbava. Revivia a lembrança do pai, o ódio antigo, entranhado, feroz, por ele consagrado ao Rosas, a surpresa de o ter sentado perto da mãe e ao mesmo tempo a vergonha, a dor ter sido repelida!
O sol parecia queimá-la, abrasando-lhe a cabeça nua, refulgindo no seu formoso cabelo cor de