Página:A cidade e as serras (1901).pdf/120

Wikisource, a biblioteca livre
106
A cidade e as serras

dureza e espessura de juba brava, em dous tons amarellos, uns mais dourados, outros mais crestados, como a côdea de uma torta ao sahir quente do forno.

Com um riso tremulo, agarrei os seus dedos compridos e frios:

— E o nomesinho, hein?

Ella séria, quasi grave:

— Madame Colombe, 16, rua do Helder, quarto andar, porta á esquerda.

E eu (miseravel Zé Fernandes!) tambem me senti muito sério, trespassado por uma emoção grave, como se nos envolvesse, n’aquella alcôva de Café, a magestade d’um Sacramento. Á porta, empurrada levemente, o creado avançou a face nedia. Ordenei uma lagosta, pato com pimentões, e Borgonha. E foi sómente ao findarmos o pato que me ergui, amarfanhando convulsamente o guardanapo, e a tremer lhe beijei a bocca, todo a tremer, n’um beijo profundo e terrivel, em que deixei a alma, entre saliva e gôsto de pimentão! Depois, n’uma tipoia aberta, sob um bafo molle de leste e de trovoada, subimos a Avenida dos Campos-Elyseos. Em frente á grade do 202 murmurei, para a deslumbrar com o meu luxo: — «Móro alli, todo o anno!...» E como ao mirar o Palacete, debruçada, ella roçára a matta fulva do pello crespo pela minha barba — berrei