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A cidade e as serras

doce aragem, um fino piar d’ave na ramaria, um murmurio de regato entre canas verdes, e por sobre a sébe, ao lado, um perfume, muito fino e muito fresco, de flores escondidas.

Depois, quando eu, velho familiar das serras, me não abandonava aos mesmos extasis que a elle lhe enchiam a alma ainda noviça — o meu Principe rugia, com a indignação d’um poeta que descobre um mercieiro bocejando sobre Shakspeare ou Musset. Eu ria.

— Meu filho, olha que eu não passo d’um pequeno proprietario. Para mim não se trata de saber se a terra é linda, mas se a terra é boa. Olha o que diz a Biblia! «Trabalharás a quinta com o suor do teu rosto!» E não diz «contemplarás a quinta com o enlevo da tua imaginação!»

— Podéra! exclamava o meu Principe. Um livro escripto por Judeos, por asperos semitas, sempre com o turvo olho posto no lucro! Repára, homem, para aquelle bocadinho de valle, e consegue não pensar, por um momento, nos trinta mil reis que elle rende! Verás que pela sua belleza e graça elle te dá mais contentamento á alma que os trinta mil reis ao corpo. E na vida só a alma importa.

Recolhendo ao casarão, já o encontravamos com as janellas meio cerradas, os soalhos