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A cidade e as serras
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novos, subia contra a estante, como fresca terra d’alluvião tapando uma riba secular. Contornei essa collina, mergulhei na secção das Sciencias Naturaes, peregrinando, n’um assombro crescente, da Orographia para a Paleontologia, e da Morphologia para a Crystallographia. Essa estante rematava junto d’uma janella rasgada sobre os Campos Elyseos. Apartei as cortinas de velludo — e por traz descobri outra portentosa rima de volumes, todos de Historia Religiosa, de Exegese Religiosa, que trepavam montanhosamente até aos ultimos vidros, vedando, nas manhãs mais candidas, o ar e a luz do Senhor.

Mas depois rebrilhava, em marroquins claros, a estante amavel dos Poetas. Como um repouso para o espirito esfalfado de todo aquelle saber positivo, Jacintho aconchegára ahi um recanto, com um divan e uma mesa de limoeiro, mais lustrosa que um fino esmalte, coberta de charutos, de cigarros d’Oriente, de tabaqueiras do seculo XVIII. Sobre um cofre de madeira lisa pousava ainda, esquecido, um prato de damascos seccos do Japão. Cedi á seducção das almofadas; trinquei um damasco, abri um volume; e senti estranhamente, ao lado, um zumbido, como de um insecto de azas harmoniosas. Sorri á idéa que fossem abelhas, compondo o seu