Página:A cidade e as serras (1901).pdf/98

Wikisource, a biblioteca livre
84
A cidade e as serras

A beatitude de S. Alteza, enterrado n’uma vasta poltrona, era perfeita. Ao lado o collo de Madame Verghane arfava como uma onda de leite. E o meu pobre Jacintho, n’uma applicação conscienciosa, pendia sobre o Theatrophone tão tristemente como sobre uma sepultura.

Então, ante aquelles seres de superior civilisação, sorvendo n’um silencio devoto as obscenidades que a Gilberte lhes gania, por debaixo do solo de Paris, atravez de fios mergulhados nos esgotos, cingidos aos canos das fezes, — pensei na minha aldeia adormecida. O crescente de lua, que, seguido d’uma estrellinha, corria entre nuvens sobre os telhados e as chaminés negras dos Campos-Elyseos, tambem andava lá fugindo, mais lustrosa e mais dôce, por cima dos pinheiraes. As rãs coaxavam ao longe no Pego da Dona. A ermidinha de S. Joaquim branquejava no cabeço, nuasinha e candida...

Uma das senhoras murmurou:

— Mas, não é a Gilberte!...

E um dos homens:

— Parece um cornetim...

— Agora são palmas...

— Não, é o Paulin!

O Gran-Duque lançou um chut feroz... No pateo da nossa casa ladravam os cães. D’além