perene e natural — «Para quê?» — «Não vale a pena!» — « Que maçada!...»
Uma noite no meu quarto, descalçando as botas, consultei o Grilo:
— Jacinto anda tão murcho, tão corcunda... Que será, Grilo?
O venerando preto declarou com uma certeza imensa:
— S. Ex.a sofre de fartura.
Era fartura! O meu Príncipe sentia abafadamente a fartura de Paris: — e na Cidade, na simbólica Cidade, fora de cuja vida culta e forte (como ele outrora gritava, iluminado) o homem do século xix nunca poderia saborear plenamente a «delícia de viver», ele não encontrava agora forma de vida, espiritual ou social, que o interessasse, lhe valesse o esforço duma corrida curta numa tipóia fácil. Pobre Jacinto! Um jornal velho, setenta vezes relido desde a Crónica até aos Anúncios, com a tinta delida, as dobras roídas, não enfastiaria mais o Solitário, que só possuísse na sua Solidão esse alimento intelectual, do que o Parisianismo enfastiava o meu doce camarada! Se eu nesse Verão capciosamente o arrastava a um Café-Concerto, ou ao festivo Pavilhão de Armenonville, o meu bom Jacinto, colado pesadamente à cadeira, com um maravilhoso ramo de orquídeas na casaca, as finas mãos abatidas sobre o castão da bengala, conservava toda a noite uma gravidade tão estafada, que eu, compadecido, me erguia, o libertava, gozando a sua pressa em abalar, a sua fuga de ave solta... Raramente (e então com veemente arranque como quem salta um fosso) descia a um dos seus Clubes,