Página:A cidade e as serras (1912).djvu/116

Wikisource, a biblioteca livre
A CIDADE E AS SERRAS

a estrela, e tomou a mirra nas suas mãos reais, e montou pensativamente sobre o seu dromedário? Já por esses arredores da dura Cidade, de noite, enquanto Caifás e Madalena ceiam lagosta no Paillard, andou um Anjo, atento, num voo lento, escolhendo um curral? Já de longe, sem moço que os tanja, na gostosa pressa dum divino encontro, vem trotando a vaca, trotando o burrinho?

— Tu sabes, Jacinto?

Não, Jacinto não sabia — e queria acender o charuto. Forneci um fósforo ao meu Príncipe. Ainda rondámos no terraço, espalhando pelo ar outras ideias sólidas que no ar se desfaziam. Depois penetrávamos na Basílica — quando um Sacristão nédio, de barrete de veludo, cerrou fortemente a porta, e um Padre passou, enterrando na algibeira, com um cansado gesto final e como para sempre, o seu velho Breviário.

— Estou com uma sede, Jacinto... Foi esta tremenda Filosofia!

Descemos a escadaria, armada em arraial devoto. O meu pensativo camarada comprou uma imagem da Basílica. E saltávamos para a vitória, quando alguém gritou rijamente, numa surpresa:

— Eh Jacinto!

O meu Príncipe abriu os braços, também espantado:

— Eh Maurício!

E, num alvoroço, atravessou a rua, para um café, onde, sob o toldo de riscadinho, um robusto homem, de barba em bico, remexia o seu absinto, com o chapéu de palha descaído na nuca, a quinzena solta sobre a camisa de seda, sem gravata,

108